20 de março de 2013

Crianças superdotadas exigem atenção

Por Patrícia Fernandes 
 Senso crítico mais apurado, vocabulários mais amplos do que a média, maior habilidade em determinadas áreas, criatividade e originalidade são alguns dos sinais que tornam algumas crianças diferentes de seus colegas. Os portadores de altas habilidades precisam de estímulos para não perder todo o seu potencial e também para que não desenvolvam problemas de relacionamento.

Mesmo diante da eminente necessidade de acompanhamento diferenciado algumas crianças ainda sofrem com a falta de assistência na capital federal. De acordo com a Associação de Pais, Professores e Amigos dos Alunos com Altas Habilidades/Superdotação do Distrito Federal (APAHS-DF), existem apenas 18 salas de recursos destinadas a esse tipo de público. E nenhuma delas está preparada para atender os alunos. Todas contam com algum tipo de problema de ordem física, quadro de pessoal incompleto, ou falta de material de apoio.

Sem psicólogo
Segundo a diretora da APAHS-DF, Valquíria Theodoro, falta conscientização por parte do estado. “A formação que é dada é generalizada. Temos atualmente quatro regionais de ensino sem a presença de um psicólogo. Esse profissional é vital para o desenvolvimento saudável do aluno. Além disso, deve-se dar suporte à família”, afirma a diretora.

Valquíria relata que em Ceilândia aproximadamente cem crianças com altas habilidades encontram-se sem atendimento. “A Escola 57 do P Sul, foi desativada para reforma geral no fim do ano passado, e, por isso, essas crianças estão sem atendimento adequado, pois não foi designado nenhum local para acolher a sala de recursos”, informa. A cena se repete no Núcleo Bandeirante,  onde há 90 alunos à espera de sala de recursos.

A psicóloga Melissa Chaves, do Hospital do Coração, destaca que o acompanhamento é crucial para o desenvolvimento saudável das crianças com altas habilidades. “A criança deve ser acompanhada, pois geralmente dentro da sala de aula ela costuma se destacar ou se desinteressar. O ideal é que ela não tenha um tratamento diferenciado, mas conte com um cuidado a mais”. Ela ressalta que é preciso ter cautela para não exigir em excesso desses alunos. “Não é bom tratar a criança como adulto, pois, às vezes, a maturidade emocional não acompanha as demais características cognitivas”. Melissa adverte que as redes de ensino carecem de professores preparado.




A Secretaria de Educação afirmou reconhecer as falhas, e que os esforços para atender à demanda são permanentes. Segundo o órgão, o governo já contratou quase cinco mil profissionais da área de educação, a partir de 2011. A SEDF admite algumas faltas em salas de recursos de altas habilidades. Reconhece também que ainda é pequeno o número de profissionais desta área. Mas garante estar fazendo esforços para garantir um número de profissionais, o mais rápido possível, para atender inclusive estas salas de recursos até o final do 1º semestre.

A adolescente Camila Souza da Silva também deu os primeiros sinais das altas habilidades quando ainda era pequena. É o que conta sua mãe, Lídia Souza: “No primeiro ano escolar, a professora percebia que ela fazia as coisas diferentes, e muitas coisas ela já sabia”, disse a mãe. Segundo ela, a filha é acompanhada desde os oito anos. “Quando viram que ela realmente estava acima da média, constaram que ela tinha superdotação”. A adolescente, que utiliza sala de recursos de Ceilândia, sofre com a ausência do atendimento. Nos sentimos lesadas”, afirmou Lídia.