Adauto Cruz Johnny, à época em que foi tema de matéria do Correio |
Dezoito anos depois de ter sua história publicada pelo Correio, Johnny Emanuel Ferreira da Silva volta ao foco e revela-se vitorioso no aprendizado da superação. O menino, que enfrentava dificuldades para sobreviver, formou-se em medicina e foi aprovado e
Em 26 de junho de 1994, um domingo, o Correio Braziliense publicou a história do pequeno
Johnny Emanuel Ferreira da Silva, à época com 4 anos. A reportagem contou as dificuldades financeiras pelas quais a família do menino passava para oferecer a estrutura de que um superdotado como ele precisava. O pai, Leôncio João da Silva, estava desempregado. Maria da Paz Ferreira fazia pelo filho tudo o que podia com o meio salário mínimo que recebia como passadeira. Adversidades à parte, o menino queria ser “médico que cuida de criança”. Passados 18 anos, Johnny tem em mãos o diploma de medicina. A colação de grau aconteceu na primeira de dezembro último. A sorte do gênio mudou.
Em breve, o filho de Leôncio e Maria da Paz será conhecido pelos pacientes atendidos no programa Saúde da Família no Riacho Fundo como Dr. Johnny. Ele mal concluiu a faculdade de medicina pela Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), na qual ingressou aos 16 anos, e já é um dos mais novos médicos concursados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Mas, por trás dessa felicidade, tradução de um sonho realizado, estiveram amigos e desconhecidos generosos que nunca deixaram de acreditar no potencial de Johnny.
Johnny (D) com os pais, Maria da Paz e Leôncio: %u201CQuando a oportunidade aparecer, quero poder sempre ajudar os outros%u201D
Há 18 anos, quando a professora Marluce Nogueira da Silva percebeu o desenvolvimento superior de Johnny, o menino apresentava problemas nos olhos e dores no ouvido. À época, nem um casaco com capuz para proteger as orelhas dele a família conseguia comprar. Os três moravam de favor no Riacho Fundo e a criança era bolsista de um colégio particular na Asa Sul, mais adequado para acompanhar seu ritmo. A passagem de ônibus era paga com o dinheiro de uma vaquinha de servidores da Administração do Riacho Fundo, onde Marluce trabalhava, e uma padaria arcava com o lanche.
A mesa virou para Johnny depois que o Correio divulgou sua história. A Leôncio, foi oferecido um emprego de vigilante. Cestas básicas inundaram a casa da família e chegou também aquele casaco de capuz tão importante para evitar o incômodo nos ouvidos. Emocionado, o pai relembra a solidariedade que abraçou a família naquele momento: “Nós não temos nem como agradecer. Se fôssemos falar nome por nome de quem nos ajudou, você encheria três páginas de jornal”. Leôncio se desdobrava em dois empregos e ainda fazia bicos para garantir o sustento de casa e o tempo livre para que a mulher pudesse se dedicar ao filho. Ambos deixaram de fazer e comprar coisas para si próprios no intuito de garantir o futuro do menino. “Valeu tudo a pena. Os sacrifícios, as dificuldades. Eu faria tudo de novo”, diz Maria da Paz.
Retribuição
Se inicialmente pensava em se dedicar à pediatria, agora Johnny pretende se tornar um cardiologista. Antes disso, vai atender como médico da família e espera retribuir tudo o que recebeu. “Quando a oportunidade aparecer, quero poder sempre ajudar os outros”, diz o jovem. A família dele, originária de Tianguá (CE), tem um orgulho de dizer que há um médico formado entre os parentes. Leôncio concluiu o ensino médio depois de adulto, em Brasília. Maria da Paz estudou até a quarta série. Os pais fizeram de tudo para garantir ao garoto as oportunidade que eles mesmos não tiveram.
Até hoje, ele fala com modéstia de sua inteligência acima da média. Diz não perceber “muito mais facilidade” do que os colegas de escola para aprender. Apesar de ter ganho bolsa para fazer o ensino fundamental em um colégio particular, ele teve dificuldade na convivência com os colegas, enfrentou preconceito por ser pobre e, com isso, sua família acabou por matriculá-lo novamente na rede pública. Johnny, então, passou a desenvolver atividades extras, como aulas de computação e estudos avançados. Com 15 anos, estava formado no ensino médio.
A reprovação no primeiro vestibular para medicina na Universidade de Brasília (UnB) não o desestimulou. Matriculou-se em um cursinho, como aqueles de inteligência “normal”, e passou para a Escs com 16 anos. Aos 22, se formou. A facilidade para aprender é sintetizada, mais uma vez, com simplicidade: “Talvez eu estude menos que os outros e tenha boas notas. Acho que é isso”.
Parte da família compareceu à festa de formatura, e aqueles que não puderam vir do Ceará aguardam o doutor Johnny para uma grande festa na cidade natal dos pais. Com o salário que passará a receber, o novo médico planeja fazer economias para comprar uma casa própria — hoje, eles moram no Centro Espírita Fé e Amor, onde Maria da Paz trabalha como assistente de serviços gerais — e dar mais conforto aos pais.
Inteligência superior
A superdotação é usada para classificar pessoas com inteligência superior à média. É possível detectá-la por meio do teste de coeficiente de inteligência (QI). Superdotados superam os 140 pontos. Esses indivíduos têm capacidade maior de assimilação e raciocínio e precisam ter a evolução escolar assistida adequadamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 3,5% e 5% da população brasileira sejam superdotados.
Parabéns, doutor Johnny
Fonte: http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=25716
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